Por Janaina Pereira
Você deve ser um dos milhares de fãs de Clube dos Cinco (The Breakfast Club), filme emblemático do John Hughes, lançado nos cinemas americanos em 1985. Mas você se lembra que o filme não passou nos cinemas brasileiros? Pois é. Por aqui foi lançado direto em VHS em 1987, e se tornou um fenômeno graças ao boca a boca dos jovens na época – sinceramente nem me recordo dele sendo exibido na Sessão da Tarde, mas lembro bem do quanto as pessoas curtiam a história.
Trinta anos se passaram e eu fui uma das privilegiadas em assistir a primeira sessão de Clube dos Cinco no Brasil, nesta quinta (30), no Caixa Belas Artes. Mais: eu vi o filme ao lado de Andrew Meyer, produtor do longa. A exibição especial, que fez parte da programação do 4º Acting and Film, evento organizado pelo Latin American Film Institute, contou com a presença de Meyer – que eu já tinha entrevistado e você pode conferir aqui. Antes de vermos o longa, o produtor fez um comentário provocativo e verdadeiro. “Quando esse filme foi realizado, Judd Nelson, que interpreta o rebelde, era o ator mais conhecido do elenco. Trinta anos depois, Anthony Michael Hall, que fez o nerd, é o ator mais famoso. Por que?”
A pergunta de Meyer mostra o quanto o cinema mudou ao longo desses anos, e como a ‘cultura nerd’ e seus super herois se transformaram nos verdadeiros ‘donos do pedaço’. Mas, ainda assim, filmes como Clube dos Cinco sobreviveram ao tempo e continuam chamando a atenção até hoje. Por que?
Em uma discussão não terminada com um cinéfilo, fui questionada que esses filmes datados em 1985 – ano particularmente especial para o cinema, que produziu alguns clássicos (veja minha matéria na GQ Online sobre isso aqui) – só são lembrados por causa de nossa memória afetiva. Será? Sim e não.
Claro que filmes que vimos quando mais jovens marcam nossas vidas, mas alguns deles têm um valor além disso. E acredito que Clube dos Cinco se encaixa nesse perfil, por trazer os estereótipos dos jovens que encontramos até os dias de hoje. É um filme atemporal, que todo mundo se identifica, uma história universal (cinco adolescentes – o nerd, a patricinha, a maluquete, o rebelde e o atleta – passam um sábado de castigo na escola, e descobrem que são mais parecidos do que imaginavam) e por isso – e não apenas pela memória afetiva – ele é lembrado até hoje.
Depois da exibição do longa, Andrew Meyer contou histórias de bastidores. Dá para imaginar que o principal gasto da produção foi a construção da biblioteca onde se passa a história? É isso mesmo! John Hughes pensou em uma biblioteca simples e compacta mas a Universal (estúdio que distribuiu o filme) decidiu que precisava ser uma biblioteca grande e cheia de ambientes para que o espectador não se cansasse de ver sempre o mesmo cenário. “O estúdio construiu uma biblioteca espetacular, e ela foi construída do zero. Tudo foi pensado: o balcão para as cenas de dança, a estátua que aparece em vários momentos… ficou incrível”, contou o produtor.
É visível a química do elenco que, segundo Meyer, ficou hospedado num hotel nos arredores de Chicago (onde o filme foi rodado) durante algumas semanas, antes de filmar, justamente para criarem intimidade. Quando as filmagens começaram, eles já eram amigos e isso se refletiu nas cenas. “Não sabíamos que esse era o elenco ideal até ver o filme pronto”, revelou, acrescentado que Judd Nelson era o mais próximo de Hughes, e se esquivando de dizer qual era o seu favorito. “Gosto de todos”, disse Meyer.
Além de Judd Nelson, Clube dos Cinco tem Anthony Michael Hall, Emilio Estevez, Ally Sheedy e Molly Ringwald (que se tornaria musa daquela geração) no elenco. Juntos, eles têm no filme uma cena inesquecível – aquela em que todos conversam sentados no chão da biblioteca e expõem suas dúvidas e crises. Os longos 12 minutos de papo – impossíveis de serem imaginados hoje, quando os jovens praticamente só interagem pelo mundo virtual – quase foram contados pelo estúdio, mas Meyer e Hughes bateram o pé e mantiveram a cena.
Outra curiosidade é a força da trilha sonora, encabeçada por “Don´t you (forget about me)”, do Simple Minds (a gente fala do filme e lembra da música imediatamente). Andrew Meyer contou que Hughes era muito musical, e ele mesmo escolhia a trilha sonora de seus filmes. “Foi ideia dele colocar aquela obscura banda escocesa para abrir e fechar o filme”, disse o produtor.
E só para reforçar a ideia de que John Hughes era mesmo genial, Meyer contou que assim que o conheceu, Hughes apresentou cinco roteiros a ele: além de Clube dos Cinco, Curtindo a vida adoidado, A Garota de Rosa Schocking, Gatinhas e Gatões e Esqueceram de Mim já estavam escritos. Vale lembrar que Hughes, que faleceu em 2009, tinha pouco mais de 30 anos quando escreveu e dirigiu esses filmes que o tornariam o grande nome dos cinema juvenil da década de 1980.
Sentiu saudades e quer ver Clube dos Cinco no cinema? Aproveite que neste final de semana o Clássicos do Cinemark exibe o fime – sábado (1), domingo (2) e quarta (5). Confira os horários aqui. Para se emocionar e sair cantando “Don´t you (forget about me)” como se fosse 1985 de novo.